Eras

Volto a mim próprio após um passeio
Pelas ruas de um amor que agora odeio
Quando morre a compaixão nasce o receio
"A vida é bela" até apagares a vela
Selo um destino sem destinatário
Já sou crescido, já não sou otário
"Julgo ter evoluído" escrevo no meu diário
Puxo doutro spliff como se fosse um cigarro
Evoluo com cabelos cinzentos
cuspo emoções misturadas com catarro
Passam-se os dias, momentos que não agarro
Instala-se a sarna e o sarro
Saboreando o eterno dissabor
Levo em mim todas a as glórias
Início e término de todas as histórias
Sou todo o calor e tenho igual dor
A divindade está no nosso próprio valor.

Definições a mais para tirar do peito
Onde fica a satisfação? Onde está o proveito?
Perdido, desfeito, imperfeito
Revitalizo-me para dar um jeito
De recomeçar, recompensar, abraçar
Ao deitar para dormir, insisto em existir
Com um perfeito propósito, uma honrosa missão
Louvar a vida e genuína ambição
Desvendar toda a magia interior da intuição
Amarga fixação da criação única neste plano de existência
Acordo da dormência, recupero a decência
Perdoo a violência, a indecência e ignorância sem fim
Não sou eu nem quero que faça parte de mim!

Mas vamos ser reais, eu sou como os demais
Nunca especiais, indo para onde tu também vais
Perante situações medonhas
Engolindo as próprias entranhas
Tudo é em vão
Mas tudo pode ser que não - seja bem assim,
mesmo que não possa acreditar em Deus, no Diabo nem mesmo em mim
Já sei bem ao que vim: FINIS segundo o latim
O derradeiro e verdadeiro fim
Demónico e divino, salpico e sorrio
Sanidade por um fio - através da barreira de ilusão
Calmamente caótico, levado pela adicção
De momentos únicos de destruição
Venha o tempo diluir o passado
Sentimento escrito, capítulo fechado.
O futuro é nunca deixar o agora passar ao lado!